Em 2012, pelo terceiro ano consecutivo, a renda anual dos consumidores chineses que vivem no campo superou a das cidades. Este movimento positivo está relacionado a dois fatores: o aumento do salário dos trabalhadores migrantes (incluídos na métrica da renda líquida rural) e os esforços políticos para o fortalecimento da rede de segurança social nas zonas rurais do país. (Não que estes dois fatores já tenham alcançado níveis justos ou ‘dignos’).
A renda per-capita líquida dos habitantes rurais aumentou 10% em 2012. No ano anterior, a taxa tinha sido de 9,6%. Segundo o Departamento Nacional de Estatísticas chinês o aumento deveu-se ao principalmente ao incremento observado na renda dos trabalhadores migrantes. O poder de compra também apresentou incremento por salários auferidos pelos camponeses que trabalham nas cidades.
A renda per capita líquida dos habitantes rurais subiu mais do que a da população urbana em 2010, pela primeira vez desde 1997. As vendas do varejo em regiões rurais cresceram 14,5 por cento no ano passado, superando áreas urbanas, que aumentou 14,3 por cento. Os gastos das famílias rurais ficaram em 2.780 trilhões de yuans (aproximadamente $ 447 trilhões) no ano passado, menos de um quinto das famílias urbanas. Hoje a população urbana representa 52,6 por cento dos 1,35 mil milhões de chineses, segundo estatísticas oficiais do governo.
O movimento da renda favorecendo as famílias rurais sinaliza o objetivo de Pequim em disseminar ganhos e aumentar o consumo, a fim de sustentar a recuperação do crescimento e reduzir a dependência da economia sobre as exportações, cuja taxa de aumento em 2012 foi 50% menor do que a registrada no ano anterior.
Porém, a situação evidencia necessidades de medidas sensíveis, como a revisão do sistema de registro de residência – denominado hukou - que limita a mobilidade de pessoas e mantém 642 milhões de camponeses impossibilitados de ingressar na força de trabalho urbana. Em fevereiro de 2012, o Conselho de Estado manifestou intenção de implementar políticas que auxiliem os habitantes rurais a inscreverem-se como residentes urbanos em municípios de pequeno e médio porte. Mas o Conselho informou a continuidade de políticas que visam “controlar razoavelmente" a população das grandes cidades, incluindo Pequim e Xangai.
A tarefa de casa
Reforçar o papel do consumo como impulsionador do crescimento econômico é uma das tarefas mais importantes da agenda econômica chinesa para este ano. Como afirmou Stephen Roach, ex- presidente da Morgan Stanley na Ásia, em um artigo de opinião para o portal Project Syndicate esta semana, “sem equilíbrio e reformas os dias do pouso suave chinês podem estar contados”.
Apesar dos ganhos observados na renda per capita líquida dos habitantes rurais, a marca de 7,917 yuan alcançada em 2011 é cerca de 3,5 vezes menor que a dos moradores das cidades. Números que sinalizam a chegada da hora de repartir o bolo e evitar tensões sociais.
Durante os 10 anos em que o presidente Hu Jintao e o primeiro ministro Wen Jiabao – ambos na iminência de se aposentarem – o governo aboliu impostos agrícolas, expandiu a cobertura de programas de saúde e aumentou os preços mínimos para compra de grãos dos produtores rurais. Medidas estas adotadas com a intenção de impulsionar o desenvolvimento rural.
A década Hu-Wen termina em março de 2013 e apresentou a maior taxa de crescimento médio do país desde o início do processo de abertura, em 1978, época em que a prosperidade econômica se transformou na principal fonte de legitimidade do PCC. Pelos próximos dez anos o país será governado pela dupla Xi Jinping e Li Keqiang, representantes da “quinta geração de líderes” que serão o presidente e o primeiro-ministro da segunda maior economia do mundo, respectivamente.